Um dos meus Hinos favoritos é o de número 171, cujo nome é “A Verdade O Que É?”. Na letra de sua música lê-se o seguinte:

A verdade o que é? É o supremo dom que é dado ao mortal desejar, procurai no abismo na treva e na luz, nas montanhas e vales o seu claro som, e grandeza ireis contemplar!

A verdade o que é? É o começo e fim, para ela limites não há, pois que tudo se acabe, a terra e o céu, sempre resta a verdade que é luz para mim, dom supremo da vida será!”

Faço um convite a todos que desejarem ler e participar deste blog: busquemos a verdade, onde quer que ela estiver.

Críticas, comentários e sugestões serão muito bem-vindos, desde que haja o devido respeito. Estou disponível para esclarecer quaisquer dúvidas que meus posts e/ou minhas traduções possam vir a suscitar.

Para quem desejar debater, conversar e tirar dúvidas, este é o e-mail do blog: averdadesud@hotmail.com.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Os Verdadeiros Motivos de Thomas B. Marsh

 
Texto traduzido e adaptado de TheMormonCurtain

Sobre o famoso incidente com Tomas B. Marsh, Gordon B. Hinckley fez as seguintes observações na Conferência Geral de abril de 1984:

"De acordo com o relato feito por George A. Smith, enquanto os santos estavam em Far West, no Missouri, Elizabeth Marsh, que era mulher de Thomas, e uma amiga, a irmã Harris, decidiram fazer uma troca de leite entre si para produzirem mais queijo do que conseguiriam normalmente. Para garantir que tudo fosse justo, elas concordaram em não guardar o último leite da ordenha, mas ceder o leite todo, inclusive o do final da ordenha. Esse leite do final da ordenha é o mais gordo, o que tem mais nata.

“A irmã Harris cumpriu o acordo, mas a irmã Marsh queria que seu queijo ficasse ainda mais gostoso, e guardava meio litro desse leite mais gordo de cada vaca e mandava o restante para a irmã Harris. Por causa disso as duas brigaram. Já que elas não conseguiram chegar a um acordo, o caso foi levado à apreciação dos mestres familiares. Eles acharam que Elizabeth Marsh era culpada de não cumprir o acordo. Ela e o marido não gostaram dessa decisão e o caso foi levado ao bispo para ser julgado pela Igreja. O tribunal do bispo concluiu que o leite gordo fora indevidamente retido e que a irmã Marsh violara o acordo feito com a irmã Harris.

“Thomas Marsh (foto ao lado) apelou ao sumo conselho e os integrantes desse conselho confirmaram a decisão do bispo. Então ele apelou à Primeira Presidência da Igreja. Joseph Smith e seus conselheiros avaliaram o caso e mantiveram a decisão do sumo conselho.

“O Élder Thomas B. Marsh, que tomou o partido da esposa durante todo o processo, foi ficando mais raivoso diante de cada uma dessas decisões. Na verdade, sua raiva foi tanta que procurou um magistrado e jurou que os mórmons eram hostis ao Estado do Missouri. Seu testemunho levou (ou ao menos foi um dos fatores que levou) à cruel ordem de extermínio decretada pelo Governador Lilburn Boggs, que obrigou 15.000 membros da Igreja a abandonarem suas casas e causou o terrível sofrimento e as mortes que se seguiram. Tudo isso aconteceu por causa de uma briga num caso de troca de leite e nata.

“Que coisa pequena e trivial - um pouco de creme pelo qual duas mulheres brigaram. Mas isto levou, ou pelo menos foi um fator de uma ordem cruel de extermínio do governador Boggs, que expulsou os SUDs do estado de Missouri." ("Ensign" Magazine, May 1984, p. 83. Veja também o discurso de Thomas S. Monson: "Amansa teu Temperamento", em A Liahona, novembro de 2009, p.64.)

Observe como Hinckley, e posteriormente Monson, afirmam que o incidente do "leite da última ordenha" (se é que de fato ocorreu) foi um fator importante postura de Marsh e resultou na Ordem de Extermínio.

Mas as observações de Hinckley (via George A. Smith) estavam sequer perto da verdade? Vamos comparar as afirmações do Hinckley aos fatos documentados da história:

Vejamos uma "revelação" produzida por Smith e publicada em 1833 no seu "Livro dos Mandamentos", como segue:

"E acontecerá que o que eu disse pela boca de meus profetas deve ser cumprido, porque eu consagrarei as riquezas dos gentios ao meu povo que são da casa de Israel." (Livro dos Mandamentos 44:32)

Na revisão de 1835  que Smith fez no Livro de Mandamentos, agora reintitulado como "Doutrina e Convênios", Smith alterou este versículo da seguinte forma:

“Pois acontecerá que o que eu disse pela boca de meus profetas será cumprido; pois consagrarei das riquezas daqueles que abraçam meu evangelho entre os gentios aos pobres de meu povo, que são da casa de Israel.”  (DeC 42:39)

David Whitmer (foto ao lado) explicou por que a versão original desta "revelação" deixou os Missourianos enfurecido contra os imigrantes mórmons, em 1833:

"Na primavera de 1832, em Hiram, Ohio, os Irmãos Joseph e Sidney, entre outros, concluiram que as revelações deveriam ser impressas em um livro. Alguns dos irmãos -  inclusive eu mesmo – fomos seriamente contra a idéia. Dissemos a eles que, se as revelações fossem publicadas, o mundo iria receber os livros, e não daria certo. Que não era a vontade do Senhor que as revelações fossem publicadas.

“Mas os irmãos Joseph e Sidney não nos ouviram, e disseram que enviariam-nas à Independence para serem publicadas. Eu objetei e opus-me aos irmãos Joseph e Sidney face a face. O irmão Joseph disse o seguinte: ‘Qualquer homem que se oponha a ter essas revelações publicadas, deve ser retirado da Árvore da Vida e da Santa Cidade'.

"O Espírito de Deus veio sobre mim e profetizei à eles em nome do Senhor: ‘Que se eles mandassem essas revelações para serem publicadas como um livro, em Independence, as pessoas viriam contra eles, destruiriam a imprensa e a igreja seria expulsa do condado de Jackson’. Os irmãos Joseph e Sidney riram de mim.

“Logo no início da primavera de 1833, em Independence, Missouri, as revelações foram impressas como o Livro de Mandamentos. Muitas cópias foram finalizadas e distribuídas entre os membros da igreja, e através de alguns dos irmãos insensatos, o mundo se apoderou de alguns livros. A partir desse momento, a sensação de mal em relação à nós começou a aumentar e, no verão de 1833, uma legião veio contra nós, destruiu a imprensa, e expulsou a Igreja do condado de Jackson." ("An Address to all Believers in Christ”)

É óbvio que Smith alterou o versículo que pedia a "consagração das riquezas dos gentios para a casa de Israel", pois a publicação de tal política tinha expulsado os mórmons do Condado de Jackson.

No entanto, ele e Rigdon secretamente continuaram a sua defesa da "consagração" de bens pessoais de não-mórmons, bem como dos dissidentes mórmons para o seu "reino". Esta certamente foi a causa fundamental da expulsão definitiva dos mórmons de Missouri em 1838.

Para os mórmons de hoje, "consagração" significa dar seu dinheiro ou bens para a igreja. Porém, em 1838, após o fracasso de seu Banco de Kirtland (veja AQUI) e da "Ordem Unida", Smith e Rigdon foram ao Missouri e novamente tentaram instituir uma economia comunista.

Os mórmons no Missouri, que haviam sido expulsos do condado de Jackson em 1834, viviam em relativa (embora temporária) paz no Condado de Clay, comprando terras e transformando-as em fazendas. Mas a chegada de Smith e Rigdon na primavera de 1838 trouxe um afluxo de milhares de mórmons de Kirtland, que espalharam-se em terras"gentias", causando novas tensões. A população mórmon aumentou, no local, de 1.200 para 15.000 em poucos meses.

Tendo fracassado em Kirtland, Smith e Rigdon implementaram novas políticas, e esperavam que esse novo comunismo tivesse sucesso. A política determinava que todos os mórmons doassem suas terras para a igreja, e então a igreja iria alugar a terra para eles como "mordomias".

Os mórmons que tinham comprado e cultivado suas terras e fazendas rejeitaram a idéia - entre eles, Cowdery, a família Whitmer, Phelps, Lyman Johnson, etc. Eles perceberam corretamente que a nova política de "consagração" não era nada mais do que um esquema de Smith e Rigdon pegarem até a "última lã do rebanho".

A recusa em doar suas terras para a igreja culminou no “Sermão Salgado”[1] de Rigdon  (que foi calorosamente aprovado por Smith) e uma carta, também de Rigdon, informando aos dissidentes que deveriam "sair antes quem mais calamidades fatais " se abatessem sobre eles.

Enquanto os dissidentes saíram para obter apoio judiciário e impedir que Smith e Rigdon tomassem suas terras (ou suas vidas), os "Danitas" invadiram e saquearam suas casas e propriedades. Então, para aqueles mórmons, "consagração" significava ter seus bens tomados à força, sob as ordens dos líderes da igreja.

"Uma proposta foi feita e apoiada por alguns, como sendo a melhor política matar estes homens para que eles não fossem capazes de ferir a igreja. Todas essas medidas foram veementemente contestadas por John Corrill e TB Marsh, um dos doze apóstolos da igreja, e como consequência, nada poderia ser feito até que o assunto fosse levado à público pela Presidência no próximo (junho 17), para uma grande congregação ..." (" Reed Peck Manuscript ")

Assim, de acordo com Peck, Marsh se opunha às políticas hediondas de Smith e Rigdon já em 17 junho - quatro meses antes de Marsh fazer seu “juramento”. Esse fato por si só destrói a história do "leite da última ordenha".

Como muitas testemunhas (incluindo Thomas B. Marsh) depuseram no tribunal, a intenção de Smith era "conquistar este Estado, ... os Estados Unidos e, finalmente, o mundo inteiro" para seu império teocrático.

A população mórmon, inchada, perturbava os não-mórmons, que ouviam que os "gentios" deveriam ser expulsos e suas terras serem tomadas para a "Nova Jerusalém" dos mórmons.

Um Missouriano, William Peniston, afirmou em agosto, que os mórmons

"são um conjunto de ladrões de cavalos, mentirosos e falsificadores. Vão jurar falsamente em qualquer ocasião para salvar outro mórmon .... nenhuma propriedade está segura no Condado de Daviess se eles continuarem a invadir esta área."

De fato, posteriormente Sidney Rigdon, em 18 junho 1845, informou no "Messenger and Advocate” que Parley P. Pratt, ao falar dos meios pelos quais os líderes da igreja deveriam apoiar Smith, informou que ‘temos que mentir para proteger o irmão Joseph, é nosso dever fazê-lo’.”

Tensões logo irromperam em violência, com espancamentos, saques e incêndios cometidos por ambos os lados.

Também lemos que:

“Uma guerrilha surgiu entre as forças mórmons e anti-mórmons por dois dias, quando ambos os lados pilharam e incendiaram. Os membros da Igreja consideravam que tirar dos gentios fosse uma necessidade imposta a eles, pois seus próprios bens haviam sido roubados. Um jovem oficial da milícia mórmon, Benjamin F. Johnson, disse: ‘Estávamos cercados de todos os lados por nossos inimigos e sem comida. Todo o cereal, gado, porcos e suprimentos de todo o tipo haviam sido deixados no campo ou tão distante de casa que não podiam ser obtidos a não ser com uma forte guarda. Portanto nossa única possibilidade era sair em grupos à procura de comida e trazer o que conseguíssemos encontrar, independente de quem fosse o proprietário’.” História da Igreja na Plenitude dos Tempos, p 198-199

Porém, o historiador da Igreja John Whitmer foi mais além dos furtos “por necessidade”. Ele afirmou que os líderes mórmons alegaram que o furto que faziam era justificado, pois eles eram o "povo escolhido":

"Depois de terem conduzido a nós e nossas famílias, eles iniciaram uma confusão em Daviess County, adjacente  a este condado, em que eles começaram a roubar e queimar casas, etc, etc. Roubaram mel que eles (os mórmons) chamavam de azeite doce, porcos que eles chamavam de ursos, e gado que eles chamavam de búfalo. E assim justificavam-se dizendo: ‘Nós somos o povo de Deus, e todas as coisas são de Deus; portanto, elas são nossas’." (John Whitmer's "History of the Church") 

As observações de John Whitmer revelaram a verdadeira atitude de Smith e Rigdon: eles viam a sua organização como a tradução literal da "Casa de Israel" e "o Reino de Deus na Terra". Eles ensinavam sobre o iminente retorno e reinado milenar de Cristo, onde todos os "inimigos" da "verdadeira igreja" seriam derrotados. Uma vez que, no "Milênio", todas as coisas na terra seriam deles, eles arrogantemente ensinaram aos seus subordinados a se apropriarem dos bens dos "gentios".

Por volta de outubro, acreditando que eles tinham pessoal suficiente para "dominar o Estado", Smith e Rigdon enviaram as suas forças "Danitas" para começarem a "consagração" dos "gentios", bem como dos "Santos dissidentes", com saques que apoiariam seus esforços de guerra.

Sobre os Danitas, lemos:

“Também contribuiu para o conflito com os gentios a formação de uma sociedade secreta que se denominava os Danitas, por Sampson Avard. Era um grupo ligado por juramento, que se identificava por meio de senhas e sinais secretos. Avard convenceu seus seguidores de que estavam agindo com a aprovação da Presidência da Igreja e que tinham autorização para vingarem-se dos inimigos da Igreja por meio de roubos, mentiras e até assassinato, se necessário. As depredações realizadas pelos Danitas, tanto reais quanto imaginárias, aumentaram as hostilidades e deram às autoridades governamentais de Missouri motivo para indiciar Joseph Smith e outros líderes por crimes contra o estado.” História da Igreja na Plenitude dos Tempos, p 191

O historiador mórmon Leland Gentry admite os roubos praticados pelos mórmons:

"Os Danitas foram ensinados a tirar dos gentios e a consagrarem para a Igreja. Quase todas as pessoas que testemunharam no julgamento contra os dirigentes mórmons fizeram menção a este fato. John Clemenson declarou que ‘era frequente observar entre as tropas em Diahman que a hora havia chegado, quando as riquezas dos gentios deveriam ser consagradas aos santos’. Jeremias Myers testemunhou que  ‘a propriedade consagrada ... era distribuída aos necessitados pelo Bispo Vinson Knight’." (A History of the Latter-Day Saints in Northern Missouri, p. 385-387).

"Os Danitas atacaram Gallatin e duas outras cidades, Millport e Grinding Fork. Os três ataques ocorreram simultaneamente e teve um impacto esmagador sobre os Missourianos, que não estavam acostumados com a resistência mórmon. Quando os Capitães Lyman Wight, David W. Patten, e Seymour Brunson cavalgaram para Far West, à frente de suas companhias, a visão dos vagões de pilhagem era ofensiva para um número de Santos menos agressivos. Naquela noite, eles reuniram suas famílias e abandonaram o assentamento. Entre os desertores estavam dois dos seguidores de maior confiança de Joseph, Thomas B. Marsh e Orson Hyde, ambos membros do Conselho dos Doze Apóstolos. Os dois homens fugiram para perto de Richmond e falaram tudo o que sabiam." ("Orrin Porter Rockwell", Harold Schindler, p. 54).

"Os mórmons eram duzentos e cinquenta homens, no momento em que chegaram Daviess County ... O grosso das forças saiu em busca da oposição gentia. Eles marcharam por três assentamentos, incluindo Gallatin, e dando o troco ao Missouri, com saques e queima de lojas, casas e celeiros, antes que a raiva deles passasse ..... Quando eles retornaram com o seu saque, muitos de seu próprio povo se assustaram. Thomas B. Marsh, superior de Brigham Young como Presidente dos Doze, fez que todos soubesses que ele não aprovava tal retaliação, e deixou a igreja."  ("Kingdom of the Saints", Ray B. West, p. 86.)

"Houve muita conversa misteriosa nos campos sobre as pilhagens e as queimas da casas. Tantas eram essas conversas que eu tinha minhas próprias idéias sobre o assunto e, em certa ocasião, eu falei com o Sr. Smith, Jr., na casa , e disse-lhe que esta atitude de saquear e queimar casas pelas tropas mórmons nos arruinaria, que isso não podia ser mantido em segredo, e que traria a força do estado sobre nós. Que nossas casas seriam revistadas, e os bens roubados seriam encontrados. Smith respondeu-me, de uma forma muito grosseira, para me manter firme,  que eu não deveria dizer nada sobre isso e que ela iria desencorajar os homens ...

“Eu vi uma grande quantidade de saques e de caixas de abelha levadas para o acampamento. E eu vi muitas pessoas, por muitos dias, tirando o mel das caixas; entendi que essa pilhagem foi colocada nas mãos do bispo em Diahmon .... Os ensinamentos gerais da presidência foram que o reino que eles estavam construindo era um reino temporal ... que havia chegado a hora deste reino ser construído por meio da força, se necessário. Foi ensinado que havia chegado o tempo em que as riquezas dos gentios deveriam ser consagradas à verdadeira Israel. " (Testimony of George M. Hinkle, "Senate Document 189".)
 “Smith respondeu que havia chegado o momento que ele deveria resistir a todas as leis ... Eu ouvi J. Smith observar que havia uma loja em Gallatin, e uma mercearia em Millport, e na manhã após a conversa entre Smith e Wight sobre resistir a lei, um plano de operações foi montado, que era: o Capitão Fearnaught, que estava presente, deveria ter uma companhia de 100 homens ou mais, ir para Gallatin, e fazê-lo naquele dia, para roubar as mercadorias de Gallatin, trazê-las para Diahmon e queimar a loja ... No mesmo dia, à noite, eu vi as duas companhias restornando. A companhia empresa tinha algum saque..." (Testimony of WW Phelps, "Senate Document 189").

Do próprio depoimento de Marsh, sob juramento legal, em 24 de outubro de 1838:

"A pedido dos cidadãos do Condado de Ray, faço a seguinte afirmação ... Joseph Smith, o profeta, fez um sermão no qual disse que todos os mórmons que se recusassem a pegar em armas, se necessário, com dificuldades com os cidadãos, deveriam ser baleados ou mortos. Como eu estava lá com minha família, eu achei que o mais prudente seria ir com a minha carroça como condutor. Marchamos para Adam-ondi-Amã e não encontraram as tropas ou turba em Davies County .... uma companhia de cerca de oitenta mórmons, comandada por um homem com o nome fictício de Capitão Fearnaught [David Patten, apóstolo e Danita], marchou para Gallatin ... depois eu descobri com os mórmons que eles tinham queimado Gallatin, e que isso foi feito pela companhia citada, que marchou para lá.

“Os mórmons informaram-me que eles tinham roubado todas as mercadorias da loja em Gallatin e depositado-as no armazém do Bispo, em Diahmon. No mesmo dia, [o apóstolo e Danita] Lyman Wight marchou com cerca de oitenta cavaleiros para Millport

"... Na mesma noite, um certo número de soldados de infantaria veio da direção do Millport carregados de propriedades, que segundo fui informado, consistia de camas, relógios, mobiliário doméstico e outros ... Na mesma época, uma empresa chamada Fur Company foi enviada para trazer porcos e gado gordo, chamando os porcos de ursos e o gado debúfalos.

“Eles têm entre eles uma companhia constituída por todos os que são considerados ‘verdadeiros mórmons’, chamada de Danitas, que fizeram um juramento de apoio à liderança da igreja em todas as coisas que eles dissesem ou fizessem, sejam elas certas ou erradas ..... O plano desse tal Smith, o profeta, é tomar este Estado, e ele professou a seu povo que pretende tomar os Estados Unidos e, finalmente, todo o mundo...

“O profeta inculca a idéia, que é acreditada por todos os mórmons como verdade, que as profecias de Smith são superiores às leis da terra. Ouvi o profeta dizer que ele ainda deve derrotar seus inimigos e passar por cima seus cadáveres. Que se ele não fosse deixado em paz, ele seria um segundo Mahomé para esta geração, e que ele faria uma nesga de sangue das Montanhas Rochosas até o Oceano Atlântico ....."

Dentre todas as declarações de Marsh e de tantas outras testemunhas, nada sobre a “negociação do leite” pode ser encontrada.  Não há sequer menção sobre o assunto do alegado incidente do “leite” em qualquer história por um respeitável erudito.

Pelo contrário, todos eles concordam que a razão pela qual os mórmons foram expulsos do Missouri, foi por causa da arrogância de Smith e Rigdon, das atitudes e dos ensinamentos beligerantes, dos seus apelos à violência, das suas "revelações" que "justificavam" a seus seguidores roubarem de seus vizinhos, e dos mórmons se gabarem de que sua organização tinha um "direito divino" de conquistar o Estado do Missouri para si, por quaisquer meios necessários, incluindo a força.

O autor SUD Harold Schindler relatou a série de eventos que fez com que o Governador Boggs emitisse sua "Ordem de Extermínio", que aconteceu um dia depois do confronto entre a milícia de Missouri e os Danitas mórmon em Crooked River:

"Vinte e quatro horas após a luta do Rio Crooked, Boggs, munido com os depoimentos de Marsh e Hyde, mais queixas dos colonos amedrontados descrevendo uma rebelião mórmon, enviou dois mil milicianos em cinco divisões para o campo ...

"Então Boggs recebeu uma mensagem, confirmando a informação anterior da derrota de Bogart, acrescido de rumores de um massacre ...

"Este relatório fez com que Boggs emitisse a sua infame " Ordem de Extermínio" de 27 de outubro para o general John B. Clark. Com efeito, a ordem contestava o discurso de ‘Quatro de Julho’[2] de Sidney Rigdon, em que ele desafiou os gentios e os ameaçou com uma ‘guerra de extermínio’. Foi mais do que coincidência Boggs escolher essa palavra em particular na sua instrução para o General Clark." ("Orrin Porter Rockwell: Man of God, Son of Thunder," Harold Schindler, pp. 56-58.)

Assim, vemos que o incidente de grandes proporções que estimulou Boggs para emitir sua "Ordem de Extermínio" foi o confronto no Rio Crooked, onde vários homens em ambos os lados foram mortos.

Esse acontecimento fez Boggs perceber que os mórmons não conviviam pacificamente com os não-mórmons do estado, e uma vez que muitos mórmons tinham feito um juramento secreto para obedecer a cada ordem Smith, mesmo aquelas para cometer crimes, Boggs foi forçado a expulsar todos dos mórmons do Estado.

Assim, tendo em vista os fatos documentados, alguém pode honestamente acreditar que o real motivo do afastamento de Thomas B. Marsh da igreja  tenha sido uma luta entre duas mulheres sobre leite?

Gordon B. Hinckley e Thomas S. Monson foram "honestos com seu irmão" usando a versão de George A. Smith para promover a fé ao invés de objetivamente relacionar os numerosos testemunhos  das testemunhas e dos participantes?

É claro que ele não!

Hinckley, assim como a maioria dos outros líderes e defensores SUDs, não estão interessados em contar a real história do mormonismo. Seu objetivo é fazer circular  contos de " promoção da fé" que tentam "ensinar uma lição" e, ao mesmo tempo, ofuscar a realidade.

No geral, os mórmons, ao saberem que o primeiro presidente do Quórum dos Doze (foto ao lado) tinha "apostatado", naturalmente indagariam as razões da sua "apostasia". Porém, a  história da "última ordenha do leite" é propagada para esconder os verdadeiros motivos de Marsh e fornecer uma "lição" para os mórmons na aula da Escola Dominical.

Então, quando você diz que "a lógica me diz que as pessoas têm deixado a igreja por preocupações mais sérias" do que nomes mal escritos e "da última ordenha de leite", você está certo!

As verdadeiras "preocupações" Simonds Ryder e Thomas B. Marsh foram mil vezes maior do que uma trivial cortina de fumaça para a " promoção da fé" divulgada pela SUD Inc.

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Notas

Geralmente, o “Sermão Salgado” e o “Sermão de Quatro de Julho”, ambos proferidos por Sidney Rigdom, são confundidos.

1 - O “Sermão Salgado” foi feito em 17 de junho de 1838 contra os dissidentes da igreja: as testemunhas do livro de mórmon Oliver Cowdery, David Whitmer e John Whitmer, e outros líderes, incluindo William W. Phelps.

Segundo Rigdon, os dissidentes eram como o "sal" de que fala Jesus no Evangelho de Mateus: "Se o sal perder seu sabor, com o que salgaremos? Ele não serve para nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens." Dois dias depois que Rigdon pregou o Sermão Salgado, oitenta Santos dos Últimos Dias assinaram uma declaração (o chamado Manifesto Danita) alertando os dissidentes para se "afastarem, ou uma calamidade mais fatal recairá sobre você."

Os dissidentes e suas famílias interpretaram estas palavras como ameaças, e rapidamente deixaram o Condado de Caldwell, Missouri. Suas histórias, assim como o “Sermão de Quatro de Julho” ajudaram a atiçar o sentimento anti-mórmon no Missouri e contribuiram para a eclosão da Guerra Mórmon 1838.

2 - O “Sermão de Quatro de Julho foi proferido durante a celebração do “quarto de julho” em Far West, Missouri em 1838. Rigdon era primeiro conselheiro, e muitas vezes porta-voz, Joseph Smith.

Seu discurso foi entendido como uma "declaração de independência" mórmon, e alarmou os não-mórmons locais que participavam da celebração. Mais tarde, a presidência da igreja publicou a “Oração de 4 de julho”, causando agitação considerável e alimentando ainda mais o sentimento anti-mórmon em toda região noroeste do Missouri. Muitos contemporâneos e historiadores posteriores citam a “Oração de 4 de julho” como um fator que contribuiu para a Guerra Mórmon de1838.

O governador do Missouri Lilburn Boggs pode ter se referenciado à "guerra de extermínio", ameaçada na “Oração de 4 de julho”, quando ele lançou sua “Ordem de Extermínio”.

3 comentários:

  1. É muito fácil pegar o depoimento de um homem amargurado e cheio de rancor por seu amigo e colocar isso como sendo a verdade absoluta.
    O que essa estoria não conta é que esses "documentos" são relatos de homens que realmente apostataram do caminho por pouca coisa e deixaram seu orgulho falar mais alto e a mentira tomar seu coração o que os levaram à terrível situação de excomunhão, que se dá àqueles que por atos ou palavras contradiz a doutrina de Cristo.
    Com a excomunhão de Marsh em 1839, tendo David Wyman Patten morrido em 1838 que era o sucessor natural na ordem apostólica de Marsh, se este - Marsh não tivesse apostatado seria ele o segundo Profeta e o sucessor de Joseph Smith Júnior na Presidência da igreja, pois ele era o Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos.
    A outra questão que não foi abordada nesse texto infame é que 18 anos após sua excomunhão o irmão Thomas B. Marsh pediu perdão à igreja pelos males causados aos santos por suas mentiras, sendo reaceito como membro na mesma igreja que apostatara antes, sim A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que já estava estabelecida em Salt Lake City sob a Presidência de Brigham Young, segundo Profeta destes últimos dias, que ocupou este posto após o martírio de Joseph Smith Junior, por ser na ocasião o Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos.

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    1. Concordo. A ideia desse post é entender os outros motivos, as outras causas da apostasia de Marsh. O que deve ser entendido é que não se tratava de uma briga de esposas por causa de um pouco de nata, era bem mais complicado do que isso.

      Quanto a Marsh poder ter se tornado pres. da igreja, acho difícil entrar nessa discussão. O método para escolha de quem seria o sucessor não estava estabelecido aquela época, não era necessariamente o pres. dos doze. Tanto que o cisma original do mormonismo (mormons de Utah e igreja reorganizada) se deve a questão da sucessão não aceita por Emma e outra parte dos santos em Nauvoo.

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    2. Sobre a questão da sucessão na ocasião, tens razão. Ainda não era clara a forma da sucessão. Contudo, toda a história supostamente alegada por Thomas B. Marsh se torna sem qualquer crédito e verdade, uma vez que ele "se arrependeu" publicamente, tornou a ser batizado e reconheceu suas mentiras.
      Em que pese a declaração de que a ideia é apresentar outras evidências, exatamente da forma como referes que os Pres. Hinckley e Monson fizeram, por qual motivo omitistes a parte mais relevante de todo o depoimento do próprio Marsh (QUE ELE REFUTOU SUAS ALEGAÇÕES E PEDIU DESCULPAS PUBLICAMENTE PELAS MENTIRAS DISSEMINADAS)?
      Minha intenção não é ser ríspido. Contudo, creio, sua narrativa se assemelha justamente ao caso de Corior. Por mais que negues, sabe que está distorcendo a verdade, a fim de ser aprazível aos seus próprios interesses.
      Espero, sinceramente, que deixes de lado estas questões, a fim de buscar uma vida mais feliz e plena.

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