A palavra " Lúcifer " em Isaías 14:12 representa um problema pequeno para muitos cristãos. Porém, ela tornou-se um problema maior para os que seguem literalmente a Bíblia e um grande obstáculo para os que afirmam serem mórmons.
John J. Robinson, no livro A Pilgrim's Path, pp. 47-48, explica:
"Lúcifer apareceu no décimo quarto capítulo do Velho Testamento, livro de Isaías, no versículo 12, e em nenhum outro lugar. ‘How art thou fallen from heaven, O Lúcifer, son of the morning! How art thou cut down to the ground, which didst weaken the nations!’." [ em português: Isaías 14:12 “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!”]
O primeiro problema é que Lúcifer é um nome derivado do latim. Então, como ele entrou no manuscrito hebraico, escrito antes da existência da língua romana?
Para encontrar a resposta, um intelectual da Universidade Hebrew Union, em Cincinnati, foi consultado. Qual o nome hebreu que Satanás teria recebido (que não Lúcifer) neste capítulo de Isaías, que descreve o anjo caído que reinaria no inferno?
A resposta foi uma surpresa. No texto original em hebraico, o capítulo 13 de Isaías não é sobre um anjo caído, mas sobre o reino babilônico caído, que durante sua existência perseguiu as crianças de Israel. Não há nenhuma menção sobre Satanás, seja pelo nome ou por referência.
O erudito hebreu pôde apenas especular que alguns escribas cristãos da antiguidade, escrevendo na língua latina usada pela igreja, decidiram que eles queriam que a história fosse sobre um anjo caído, uma criatura nem ao menos mencionada no texto original hebraico, e a quem eles deram o nome de Lúcifer.
Por que Lúcifer?
Na astronomia romana, Lúcifer era o nome dado à estrela da manhã (a estrela que hoje conhecemos por outro nome romano, Vênus). A estrela da manhã aparece no céu um pouco antes do amanhecer, anunciando o sol nascente.
O nome deriva do latim, lucem ferre, o que traz, ou o portador da luz.
No texto hebraico, a expressão utilizada para descrever o rei da Babilônia antes de sua morte é Helal, filho de Shahar, que pode ser traduzido melhor como “Estrela do Dia, filho da Queda”. O nome evoca o reluzir dourado das vestes do orgulhoso rei e da corte (muito do seu esplendor pessoal herdado do rei Luiz XIV da França - pintura ao lado - apelidado de “o Rei Sol”).
Os escribas autorizados pelo rei Tiago I (King James I) para traduzirem a Bíblia para o inglês atual não usaram o texto hebraico original, mas usaram versões traduzidas por São Jerônimo, no século quatro.
São Jerônimo teria traduzido a metáfora hebraica “Estrela do Dia, filho da Queda” como “Lúcifer”, e através dos séculos uma metamorfose aconteceu.
Lúcifer, a estrela do dia tornou-se um anjo desobediente, expulso do paraíso para reinar eternamente no inferno. Teólogos, escritores e poetas misturaram o mito com a doutrina da queda, e nas tradições cristãs, Lúcifer é, agora, o mesmo que Satã, o Demônio e --- ironicamente ---- o Príncipe da Escuridão.
Portanto, Lúcifer não é nada mais que um nome latino antigo para a estrela da manhã, a que traz a luz.
Ainda, há aqueles que não leem nada mais do que a Bíblia da versão do rei Tiago, que diz “Lúcifer é Satã: assim diz a palavra do Senhor...”
Henry Neufeld (um cristão que comenta sobre os problemas da Bíblia) disse:
“Esta passagem geralmente é relacionada à Satã, e um pensamento similar é expresso em Lucas 10:18 por Jesus, que não tinha seu primeiro significado. Seu significado inicial é dado em Isaías 14:4, que diz que quando Israel estiver restaurada, eles irão ‘responder à insolência do rei da Babilônia ...’. O versículo 12 é uma parte do canto sobre essa insolência. Esta passagem se refere primariamente à queda daquele rei … “
Como a confusão na tradução deste versículo aconteceu? Essa passagem em hebraico diz "heleyl, ben shachar", que pode ser traduzida literalmente como “o que brilha, filho da queda”. Esta frase significa, novamente, no sentido literal, o planeta Vênus quando aparece como estrela da manhã.
Na Septuaginta, no terceiro século d. C. a tradução da escritura hebraica em grego foi traduzida como "heosphoros", que também significa Vênus como a estrela da manhã.
Como a tradução “Lúcifer” apareceu? Esta palavra veio da tradução do latim de Jerônimo. Portanto, ele teria cometido um erro? De forma alguma. No latim, “Lúcifer” realmente denominava Venus como a estrela da manhã. Isaías está usando esta metáfora de “luz brilhante”, mas não de “maior luz” para ilustrar o poder aparente do rei babilônico, que depois acabou.
Portanto, “Lúcifer” não é o mesmo que Satã até após Jerônimo. Apesar dele não ter cometido um erro, os cristãos atuais (e os mórmons) consideram Lúcifer o mesmo que Satã.
Mas por que isto seria um problema para os cristãos?
Os cristãos agora acreditam que Satã (Demônio ou Lúcifer) é um ser que sempre existiu (ou que foi criado próximo ao “início”). Portanto, eles também acreditam que os profetas do velho testamento conheciam esta criatura. E para provar este fato, justamente o versículo 12 de Isaías é citado (e tem sido usada assim por centenas de anos).
Como Elaine Pagels explica, o conceito de Satã evoluiu através do tempo, e os escritores antigos da Bíblia não acreditavam ou pregavam tal doutrina.
A ironia para aqueles que acreditam que Lúcifer se refere à Satã é que o mesmo título (estrela da manhã, ou o que traz a luz) é usado para referir-se à Jesus, em Pedro 1:19. Este termo também é usado para Jesus em Apocalipse 22:16
Por que Lúcifer seria um problema para os mórmons?
Os SUDs clamam que o Livro de Mórmon é um registro antigo e foi feito por volta de 600aC. Ainda, seu autor supostamente teria copiado Isaías a partir das palavras originais do próprio.
Quando Joseph Smith “traduziu” o suposto registro antigo, ele incluiu o versículo de Lúcifer no livro de Mórmon. Obviamente ele não estava traduzindo o que Isaías originalmente escreveu, mas estava copiando a versão da Bíblia do Rei Tiago.
“Como caíste do céu, ó Lúcifer, filho da manhã! Foste lançado por terra, tu, que debilitavas as nações!”
Outro livro de escrituras SUD, Doutrina e Convênios, repete esse problema em 76:26, quando reafirma a falsa doutrina que Lúcifer significa Satanás:
“E foi chamado Perdição, porque os céus prantearam por ele - ele era Lúcifer, um filho da manhã.”
Esta doutrina incorreta também se espalhou para um terceiro grupo de escrituras SUD, A Pérola de Grande Valor (Moisés 4), que descreve a guerra no paraíso baseada, em parte, na interpretação incorreta de Joseph Smith da palavra Lúcifer, que apenas aparece em Isaías.
não sabia dessa paradinha aí não
ResponderExcluirPois é! Quando eu mostro os textos e as referências originais desse erro de entendimento, eles não acreditam. Ignoram que a palavra "Lúcifer" tem origem no Latim e foi adicionado como sendo palavra original nas traduções que se seguiram. Realmente, o texto de Isaías, bem como um relato semelhante em Ezequiel, não falam de Satanás em hipótese nenhuma. PS: Não são todos os cristãos que acreditam nesse erro/engano. Mas a larga maioria. Bem larga mesmo. Que triste.
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