Durante muito, muito tempo tenho sido questionado sobre a utilidade de meu "trabalho" aqui no blog. Não gosto nem um pouco do tom em que tais comentários ou "admoestações" vêm. Primeiro, não penso que seja da conta de qualquer pessoa o que quer que eu faça de meu tempo livre, e o que quer que eu faça com o conhecimento que adquiri ao longo de muitos anos. Segundo, sou inclinado a pensar que por mais sincera que a pessoa esteja sendo ou mais preocupada que ela pareça estar, na realidade tudo o que ela quer é apenas calar a voz da opinião contrária.
Tudo isso me leva a crer que não é zelo algum o que certos "irmãos" têm por minha alma imortal quando me acusam de estar fazendo o trabalho do inimigo - é, sim, meramente a inclinação já aprendida desde muito cedo no meio SUD de sufocar e suprimir qualquer coisa que possa de alguma maneira ferir a imagem impecável da Igreja. Nada mais que isso.
A ideia de que alguém, onde quer que esteja, possa estar lendo o que escrevo ou o que traduzo já me é suficiente. Não quero fama, não quero meu nome estampado no hall de ex-mórmons famosos no orkut ou algo do tipo. Os poucos relatos de pessoas como eu, que descobriram algo que não esperavam e estão chocadas com as verdades aprendidas já basta para que eu repense milhões de vezes o que estou fazendo, o que fiz, e o futuro das coisas que ainda virei a fazer. Quanto mais eu penso nas consequências dos meus atos, mais esperançoso me torno.
A cada comentário de agradecimento, mais força ganho. Quanto aos comentários ruins ou depreciativos, tento pensar tal qual Christopher Hitchens:
Christopher Hitchens (1949-2011) |
"De certo modo, tenho pena dos racistas e dos fanáticos religiosos, porque eles perderam de tal forma a noção de serem humanos, que merecem uma espécie de compaixão. Mas então endureço o coração e decido odiá-los ainda mais por causa do sofrimento que eles infligem e por causa das desculpas desprezíveis que apresentam para fazê-lo."
Tento, mas muitas vezes não consigo simplesmente odiar e esquecer o resto. Compreendo a maneira como pensam porque já pensei assim. Um pouco de ódio, entretanto, pode funcionar como uma pitada de tempero num prato conhecido, dando um novo sabor e revitalizando o que antes já era por demais monótono. Muitos fanáticos messiânicos ensandecidos que praguejam aos quatro ventos não merecem nada além de um pouco de ódio de minha parte, já que amor, pelo jeito, não irá funcionar (e nem eu desejaria que funcionasse).
Não consigo deixar de pensar no que Marx escreveu em sua Contribuição para a crítica da filosofia do direito de Hegel, que resume de maneira magistral todo o meu sentimento com a crítica ao mormonismo:
"A abolição da religião como felicidade ilusória dos homens é uma exigência de sua felicidade real. O chamado a que abandonem as ilusões a respeito de sua condição é o chamado para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, portanto, o embrião da crítica do vale de lágrimas de que a religião é a auréola."
Mesmo que as pessoas estejam contentes com as suas situações, meu dever é intervir de alguma forma no que puder, e a forma que encontrei é a crítica. Marx continua:
"A crítica arrancou das correntes as flores imaginárias, não para que o homem suporte as correntes sem nenhuma fantasia ou consolo, mas para que se livre das correntes e colha a flor viva."
Não desejo nada menos do que isso, colher a "flor viva" a qual Marx se refere. Gostaria de poder garantir muito mais, entretanto meu único modo de combate é este pequeno espaço na rede, talvez até já um pouco saturada de blogs anti-SUD.
"Como você ousa intervir?!"
"Como você pode ter certeza que está ajudando alguém ao destruir seus sonhos?!"
"Você tem certeza de que sabe o que é o melhor?!"
Acredite, essas são as vozes da minha consciência, e não os argumentos desesperados de algum apologista. Minha decisão, todavia, já foi tomada. São respostas a tais perguntas que tentarei encontrar todos os dias. E não iria querer que fosse de outra forma.