Um dos meus Hinos favoritos é o de número 171, cujo nome é “A Verdade O Que É?”. Na letra de sua música lê-se o seguinte:

A verdade o que é? É o supremo dom que é dado ao mortal desejar, procurai no abismo na treva e na luz, nas montanhas e vales o seu claro som, e grandeza ireis contemplar!

A verdade o que é? É o começo e fim, para ela limites não há, pois que tudo se acabe, a terra e o céu, sempre resta a verdade que é luz para mim, dom supremo da vida será!”

Faço um convite a todos que desejarem ler e participar deste blog: busquemos a verdade, onde quer que ela estiver.

Críticas, comentários e sugestões serão muito bem-vindos, desde que haja o devido respeito. Estou disponível para esclarecer quaisquer dúvidas que meus posts e/ou minhas traduções possam vir a suscitar.

Para quem desejar debater, conversar e tirar dúvidas, este é o e-mail do blog: averdadesud@hotmail.com.


terça-feira, 22 de março de 2011

Sobre a Doutrinação Infantil



"Nascido" e criado como mórmon, pude aprender desde criança, ou desde quando consigo me lembrar, a crer no "evangelho verdadeiro" e na única "igreja verdadeira". Superar a visão limitada de mundo que a maioria dos "nascidos" na igreja acaba adquirinto não é um tarefa fácil.

Há tempos que penso em escrever algo mais "pessoal", que conte um pouco da minha vida, e da luta que tive que travar para conseguir me livrar dos dogmas impostos durante a minha infância e adolescência. 

Permaneço no anonimato por razões óbvias. Na língua inglesa existe uma expressão que resume, quase que completamente, a minha situação: "closet doubter". Traduzindo significa "questionador no armário", ou seja, ninguém sabe da minha real posição sobre a igreja, tirando alguns poucos com quem já tive a liberdade de falar abertamente sobre meus questionamentos.

Voltando ao tema central: a doutrinação infantil - seus males podem ser vistos e sentidos em minha vida. Apesar de ter certeza da minha posição atual - que a igreja não é o que eu sempre acreditei que fosse - ainda consigo ficar abalado no que tange a certos aspectos da cultura SUD.

Quando, por exemplo, escuto hinos como "Vinde, Ó Santos" ou "Tal Como um Facho", me emociono profundamente, é como se lá dentro, no fundo da minha mente, eu ainda desejasse que a igreja fosse o que ela afirma ser. 

Algum crente mais ávido poderia declarar: "Aí está o seu testemunho" ou " Essa é a confirmação do Espírito Santo". Mas não sou mais tão ingênuo. Isso já funcionou durante muito tempo, e ainda funciona com certas pessoas. Esse "truque" já é amplamente utilizado pelos missionários SUD. Apenas se emocione, "sinta" o espírito, ore até sentir algo, e quando você sentir, será o Espírito Santo testificando da verdade.

Como um bom estudante de psicologia, eu poderia aqui listar razões e mais razões de isso ser completamente irracional, chegando quase ao ponto patológico. Não é de se estranhar que quase não existam psicólogos no meio SUD. Posso ter sentimentos sobre a veracidade da cadeira em que eu estou sentado, se eu assim desejar. Sentimentos não são de maneira alguma confiáveis.


Sim, eu ainda me emociono com alguns aspectos da cultura SUD, mas o que mais poderia se esperar? De onde vem essa emoção? Certamente dos anos de doutrinação infantil. 

Escuto esses hinos desde quando consigo lembrar, eles eram cantados pela minha mãe antes de dormir, eram cantados em nossas reuniões familiares, é um tanto óbvio que me causem emoções. Ou talvez eu pudesse me enganar dizendo que é o Espírito. Mas qual a lógica nisso? 

Todos precisamos da realidade, os contos de fadas eram bonitos apenas na nossa infância. Um adulto que ainda acredite nesse tipo de intervenção divina está fadado a permanecer em um estado infantil.

Falando sobre esse assunto, gosto muito de um texto em que o Professor Richard Dawkins, professor de biologia evolutiva na universidade de Oxford, explica a razão da doutrinação infantil ser tão eficaz, não só no meio mórmon, mas em qualquer religião. Segue-se uma parte desse texto:


"A seleção natural constrói o cérebro das crianças com a tendência de acreditar em tudo que seus pais ou líderes tribais lhes disserem. Tais confiança e obediência são valiosas para a sobrevivência. Mas o lado ruim da obediência insuspeita é a credulidade escrava. O subproduto inevitável é a vulnerabilidade à infecção por vírus mentais. 

Por ótimos motivos ligados à sobrevivência darwiniana, o cérebro das crianças precisa confiar nos pais, e nos sábios em quem os pais as orientam a confiar. Uma conseqüência automática é que aquele que confia não tem como distinguir os bons conselhos dos maus. 

A criança não tem como saber que "Não nade no rio infestado de crocodilos" é um bom conselho, mas que "Você deve sacrificar um cabrito na época da lua cheia, senão as chuvas não virão" é no mínimo um desperdício de tempo e de cabritos. 

As duas advertências soam igualmente confiáveis. As duas vêm de uma fonte respeitável e são feitas com uma honestidade solene que pede respeito e exige obediência. O mesmo acontece com proposições sobre o mundo, sobre o cosmos, sobre moralidade e sobre a natureza humana. E, muito provavelmente, quando a criança crescer e tiver seus próprios filhos, ela vai naturalmente transmitir boa parte para os filhos — absurdos ou não-absurdos — usando a mesma gravidade contagiosa.

Líderes religiosos conhecem bem a vulnerabilidade do cérebro infantil e a importância de começar cedo com o doutrinamento. O lema jesuíta "Dê-me uma criança pelos seus primeiros sete anos de vida e eu devolverei um homem" não é menos preciso (ou sinistro) por ser batido."

Dawkins explica, de uma maneira simples, o motivo da doutrinação infantil ser tão eficaz. É óbvio que a criança acreditará o que seus pais ou líderes disserem. E é justamente por isso que a maioria dos "nascidos" na igreja jamais irá se questionar sobre a veracidade da mesma. 

Nós vimos nossos pais, avós, amigos, professores e líderes testificando da veracidade do Livro de Mórmon, do chamado profético de Joseph Smith, etc. Por que duvidaríamos das pessoas em que mais confiamos?

Além do mais, pesquisar, criticar, duvidar e questionar não são comportamentos incentivados no meio SUD. Apenas siga o profeta. Ele já pensou por você. 
E não é de se admirar que as pessoas sigam mesmo o profeta cegamente, muitas passaram o seu tempo de primária cantando: Segue o profeta, segue o profeta, sem hesitar... Segue o profeta, segue o profeta, não vais errar".

Por mais emoções que eu sinta, minha mente jamais deixará de pensar criticamente, de pensar livremente. E é por sufocar o pensamento crítico, ensinando desde a infância que a fé cega na igreja e nos líderes é algo bom e desejável, que o fundamentalismo ainda vigora no meio SUD.